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EUA lembram os 56 anos do seu primeiro satélite

William H. Pickering (esq.) do Laboratório de Propulsão a Jato, James Van Allen (centro), da Universidade Estadual de Iowa, e Wernher von Braun das ... Foto: The New York Times
William H. Pickering (esq.) do Laboratório de Propulsão a Jato, James Van Allen (centro), da Universidade Estadual de Iowa, e Wernher von Braun das Forças Armadas dos EUA segura um modelo do Explorer 1 durante uma coletiva de imprensa no dia 1º de janeiro de 1958

JOHN NOBLE WILFORD
Estados Unidos


Se o Sputnik foi o bip-bip-bip que o mundo inteiro ouviu, o som que caracterizou o lançamento do satélite Explorer 1, que completa 56 anos esta semana, foi o suspiro coletivo de alívio do público americano. Era a madrugada de 31 de outubro de 1958, quase quatro meses depois de a União Soviética ter deslumbrado o planeta com o lançamento do Sputnik, o primeiro satélite artificial, seguido pouco depois por um Sputnik de maior porte transportando um passageiro canino.


A primeira tentativa americana, o modesto Vanguard 1, lançado em dezembro, foi um fracasso vergonhoso, o que levou o satélite dos Estados Unidos a ganhar o apelido "flopnik". ("Flop" quer dizer fracasso).
A nova tentativa seria realizada com um foguete construído com base na tecnologia dos V-2 alemães da Segunda Guerra Mundial, mas com estágios superiores desenvolvidos com tecnologia americana, para conduzir o esguio Explorer, um veículo em formato de projétil balístico, ao espaço. O lançamento, do Cabo Canaveral, Flórida, pareceu bom. E isso já representava progresso, porque o foguete que propelia o Vanguard se desativou nos primeiros metros, levando o aparelho a cair e explodir diante das câmeras de TV.
Mas os controladores de vôo esperaram até cansar por um sinal de que o Explorer havia entrado em órbita. Na época, as antenas de acompanhamento eram escassas, e os sistemas de comunicação nada confiáveis. Só depois que o satélite havia praticamente concluído sua primeira volta em torno do planeta os primeiros sinais foram recebidos, por rádio-amadores que estavam em alerta na região de Los Angeles.
A notícia era positiva. Os dirigentes do projeto Explorer, que estavam aguardando os resultados em Washington, correram à sede da Academia Nacional de Ciências para anunciar que os Estados Unidos haviam respondido com sucesso ao desafio soviético. A corrida espacial havia começado.
Em uma entrevista coletiva às 2h, os três líderes - Wernher von Braun, o criador do foguete; William Pickering, diretor do laboratório que construiu o satélite; e James Van Allen, o diretor científico do projeto- ergueram uma cópia do Explorer como um troféu de vitória, para uma foto que veio a simbolizar a chegada do país ao espaço.
"Muitos elementos se uniram para criar aquela imagem marcante", escreve Steven Dick, historiador chefe da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa). Havia as pessoas, a tecnologia e, como ele aponta, a mídia, "presente no conhecimento de que o evento certamente teria proporções históricas".
Para os Estados Unidos, foi o início de meio século de vôos espaciais, ele acrescenta, que podem ter desapontado os visionários otimistas mas inspiraram outras pessoas, apesar de terem atraído críticas como "desvio de recursos que seriam mais bem utilizados na solução dos problemas do planeta".
Em ensaio publicado no site da Nasa em celebração do aniversário do Explorer, Dick concluiu que "como as ferrovias e os aviões, o vôo espacial afetou a sociedade de maneiras que nem mesmo os visionários poderiam ter previsto, e que ainda hoje é impossível avaliar de todo".
Só as pessoas que viveram a era da guerra fria conhecem a ansiedade de um mundo sob ameaça de destruição em massa. Ninguém era capaz de prever o desfecho do conflito entre as duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética. As pessoas temiam o pior, e o pânico causado pelo Sputnik gerou uma situação ainda mais quente.
Na verdade, quando o primeiro Sputnik foi testado, uma equipe de desenvolvimento de mísseis do exército americano em Huntsville, Alabama, tinha em estoque um foguete que, de acordo com seus líderes, poderia ter colocado um satélite em órbita antes dos russos, caso o governo não tivesse proibido seu uso para essa finalidade. Quando surgiu a notícia do Sputnik, Von Braun, o alemão que liderava a equipe de engenheiros, implorou a um funcionário do Departamento de Defesa: "Pelo amor de Deus, nos deixe trabalhar e fazer alguma coisa!"
No Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), em Pasadena, Califórnia, as frustrações também eram profundas. Van Allen, físico da Universidade de Iowa, já havia trabalhado com o laboratório e enviado balões e pequenos foguetes a altitudes elevadas para estudar os raios gama cósmicos que penetram a porção superior da atmosfera. O contador Geiger que ele desenvolveu estava pronto para ser instalado no Vanguard ou Explorer.
Mas o laboratório e o exército só foram autorizados a preparar um vôo depois do segundo Sputnik, em novembro de 1957. O fracasso do Vanguard, em dezembro, tornou ainda mais urgente o trabalho sem pausas que as duas equipes estavam realizando. (O programa Vanguard encontraria sucesso, no futuro.)
Mais de 100 engenheiros, especialistas em eletrônica e mecânicos, sob o comando de Pickering, tinham a tarefa de converter a unidade superior do foguete de quatro estágios em satélite. O quarto estágio era um projétil com diâmetro de 16,5 centímetros e comprimento de cerca de dois metros, cujo espaço era usado primordialmente para alojar o motor-foguete que conduziria o veículo à sua órbita final.
O desafio era como encaixar os instrumentos, de peso limitado a seis quilos, na seção frontal do estágio, que pesava apenas 8,4 quilos. Os componentes incluíam dois transmissores e conjuntos de bateria, sensores de temperatura, detectores de micrometeoritos e o contador de radiação de Van Allen.
"Não tínhamos margem de erro alguma", diz Henry Richter, especialista em eletrônica que comandou a equipe. "Éramos jovens, com 20 ou 30 anos, e muito decididos. Por isso, trabalhamos até conseguir".
Richter estava na sala de controle do Cabo Canaveral quando do lançamento. Os estágios do foguete Jupiter-C foram acionados na seqüência correta. Mas quando o estágio final, o Explorer 1, deveria ter entrado em órbita, uma estação de rastreamento em Antigua não conseguiu captar seus sinais. E tampouco surgiram sinais no momento em que o satélite deveria ter começado a sobrevoar a Califórnia.
A antena de rastreamento do JPL não estava conseguindo captar sinais devido à interferência de linhas de eletricidade de alta voltagem. Foram rádio-amadores de Temple City que primeiro receberam os sinais. O satélite havia subido a uma órbita mais alta e lenta do que a planejada e estava com oito minutos de atraso - "oito minutos de sofrimento", como descreve Richter.
O satélite manteve contato nas semanas seguintes, mas os cientistas perceberam uma peculiaridade em seus sinais. O contador de radiações ficava alguns minutos em silêncio a cada órbita. Van Allen compreendeu que isso acontecia porque o detector estava sobrecarregado. Com isso, ele descobriu a radiação que cerca o planeta, aprisionada pela atmosfera, hoje conhecida como cinturões de radiação Van Allen - a primeira descoberta científica da era espacial.
Depois do sucesso do Explorer, o JPL, que até então estava vinculado ao Instituto de Tecnologia da Califórnia, foi transferido à Nasa, e o mesmo aconteceu com a equipe de foguetes do exército. Astronautas americanos pousaram na Lua, e espaçonaves robotizadas percorreram todo o Sistema Solar. Uma profusão de satélites ocupa as órbitas terrestres elevadas, hoje em dia, e os restos de naves espaciais em órbita representam ameaça crescente ao vôo espacial.
Mas esta semana, em Huntsville e Pasadena, os membros remanescentes das equipes do Explorer 1 estão celebrando aquele primeiro passo. E continuam a sentir falta de seus três líderes, os homens daquela foto triunfal registrada 56 anos atrás.

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