OVNIS ONTEM , NA BUSCA DA VERDADE

'Fogo no Céu': a história por trás da abdução alienígena 'mais bem documentada de todos os tempos'

Então, outro dia vi na timeline do meu Facebook um anúncio de que o livro Fogo no Céu, de Travis Walton, estava sendo lançado no Brasil. O livro é uma edição ampliada de The Walton Experience, publicado originalmente em 1978, e relançado depois com o mesmo título do filme inspirado em sua história – Fire in the Sky, de 1993, uma mistura de documentário e ficção científica que conquistou um certo status de obra “cult”.
O interesse, tanto do livro quanto do filme, vem da narrativa segundo a qual Walton teria sido capturado por um disco voador em 1975, enquanto trabalhava como lenhador. O sequestro teria sido testemunhado por uma meia-dúzia de seus colegas de trabalho. Para os fãs, o caso Walton é abdução alienígena “mais bem documentada de todos os tempos”. Mas que documentação é essa? Teria Walton arranhado seus captores e trazido traços de DNA alienígena debaixo das unhas? Ou uma amostra de tecnologia extraterrestre?
Não. Na verdade, a “melhor documentação” não passa da palavra dele e dos colegas, somada ao fato de que Travis Walton esteve oficialmente desaparecido por cinco dias. Os demais lenhadores chegaram a ser considerados suspeitos de sua morte, antes que ele reaparecesse, na mesma cidade de Snowflake, Arizona, de onde havia sumido.
Como escreveu o jornalista Philip Klass, que investigou exaustivamente o assunto, “se Travis tivesse reaparecido na Nova Zelândia ou na Dinamarca, por exemplo, sem passaporte ou dinheiro, as chances de uma fraude seriam mínimas”. Mas, na mesma cidade?
Klass levantou uma série de circunstâncias curiosas, incluindo o fato de que a equipe de lenhadores a que Walton pertencia estava prestes a perder um contrato com um órgão público, e precisava desesperadamente de um pretexto para obter uma prorrogação no prazo de execução do serviço; que Travis e o irmão do líder da equipe já haviam sido processados por arrombamento e por passar cheques roubados; e que tanto Travis quanto o líder da equipe, Mike Rogers, eram entusiastas de histórias de óvnis.
Em 2008, Travis Walton aceitou participar de um reality show americano que oferecia um prêmio de US$ 100 mil para quem passasse num teste de polígrafo, e falhou vergonhosamente
Nos anos 70, o caso degenerou num embate de testes de polígrafo, ou “detector de mentiras”. Um primeiro teste aplicado a Walton, e que alguns ufólogos e jornalistas que o apoiavam tentaram manter em segredo, produziu o resultado de “fraude grosseira”; um segundo exame, divulgado por esses mesmos ufólogos e jornalistas, concluiu que ele falava a verdade. Em 2008, Travis Walton aceitou participar de um reality show americano que oferecia um prêmio de US$ 100 mil para quem passasse num teste de polígrafo, e falhou vergonhosamente.
O problema com tudo isso é que polígrafos, quando muito, medem sinais de estresse, não verdade ou mentira. Um estudo publicado em 2001 relegou a poligrafia ao campo da “pseudociência”, categoria
normalmente reservada para coisas como astrologia e quiromancia. E mesmo se o teste fosse confiável, um eventual resultado positivo apenas diria que Walton acredita no que está falando – não que o que falou realmente aconteceu.
Enfim, a história toda é mal contada, não há provas concretas de nada e o caráter e as motivações dos envolvidos na época eram, para dizer o mínimo, nebulosos. Devo confessar que não li o livro, mas o relato inicial de Walton, feito em 75, dava conta de que, dos cinco dias que teria passado em poder dos ETs, ele só teria estado consciente durante pouco mais de uma hora. Parece muito pouco para encher mais de 400 páginas.

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